terça-feira, 6 de abril de 2010

O sol de Diógenes e a sombra de Alexandre


Uma das mais belas histórias pertencente ao período dos clássicos gregos  é o relato do encontro entre Alexandre "o Grande" com o filósofo Diógenes Laércio. Não que Platão e Aristóteles não tenham sua contribuição relevante, mas, é interessante que também possamos voltar nossos olhos, mente e coração para alguns pensadores que em nossos relatos históricos e filosóficos foram deixados à margem.
Diógenes foi uma figura marcante para o movimento conhecido como "cinismo", Platão o chamara de "Sócrates enlouquecido". Os cínicos tinham dentre suas muitas regras elementares a ruptura radical com o mundo numa situação limite aonde convinências sociais, opinião e dinheiro eram desprezados numa provocadora suposta liberdade de expressão. Os cínicos haviam descoberto o sentido da existência no desapego e na proximidade com o estado de natureza, o sol que os impulsionava à vida, mesmo que em algumas circunstâncias fossem causas de desconforto social, era de uma luminosidade autêntica que potencializava nos mesmos, suas escolhas, concepção de vida e práxis cotidiana.
Diógenes vagava pelas ruas com seu alforge, jogava fora sua tijela e taça dormindo em um barril abandonado no centro da Pólis... até que um dia, reconhecido por seus exercícios de natural desapego e grandiosa sabedoria, Diógenes recebera a ilustre visita do jovem Alexandre Magno, o macedônio, destemido e amado por seu empenho heróico de tornar a Grécia o Império do mundo em suas descobertas, conquistas e encontros multiculturais. Para os gregos, o sol era o próprio Alexandre.
Assim, o conquistador se aproxima do homem sábio e oferece ao velho Diógenes o que ele desejar, qualquer presente em virtude do reconhecimento de seu modo de vida...
Ora, Diógenes venerava o sol como muitos gregos, mas, o seu sol era aquele que aquecia os dias já marcados pela sua idade, iluminava os seus caminhos e brilhava gratuitamente para todos cidadãos da Pólis, sem sair de dentro do barril onde pernoitava, ergueu os olhos ao jovem Alexandre e disse: "Uma coisa só peço... saia da frente de meu sol e deixe de fazer sombra em minha efêmera morada".
Quantos conquistadores ao longo de nossa história continuaram e, continuam ainda,  fazendo sombra à verdadeira sabedoria.


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