quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A busca de justificação da caridade

Já na antiguidade, sábios como Ovídio afirmavam o quanto "nós todos somos hábeis para nos enganar". Em nossos dias de incertezas e complexidade, o sujeito que surgir munido de vasto currículo, bagagem empoeirada de especializações, seminários e cursos, massagear certos egos e prometer o inusitado: conduzir a juventude rumo ao altruísmo e a cidadania através do pastoreio de seus egos, poderá receber a promoção de semideus em alguns espaços... ah, nossa douta ingenuidade...
Assim, a nova cultura hodierna vai se fortalecendo, cultura do desenvolvimento individual que enfraquece no sujeito contemporâneo, valores e deveres em relação a si e a sociedade maturamente. Emerge com força total a caridade com nova roupagem, através de uma boa intenção da moral sem obrigação ou sanções em um voluntariado de espetáculos breves e em shows de cidadania. E a juventude, como na Grécia Antiga, se encanta e segue hipnotizada pela retórica de sofistas contemporâneos. Sem ofensas aos sofistas da antiguidade, estes eram mais precisos em seus objetivos para com a juventude...
Eles anseiam pelo novo,  participam, colaboram, contribuem, mas, pouco refletem sobre o porquê, os motivos, as justificações destas ações, são cegos guiados por cegos.
Certamente, muitas propostas de solidariedade são louváveis quando conduzidas em um processo formativo que desperte e comprometa. Ações que não atrofiem consciências, mas, apurem os sentidos na real direção do outro, numa comunhão simétrica do cuidado de si, do próximo e da casa comum que ambos partilham.
É a busca pela justificativa do auxílio caritativo, desafio de superação da erosão social do ideal altruísta o apelo de nossos dias. É educar na profundidade o cidadão do hoje que segundo  Lipovetsky "não é mais egoísta que em outras eras, mas que, despudoradamente não titubeia em pôr a nu o caráter individualista de suas preferências", não que isso seja imoral ou ruim, pois não elimina preocupações éticas e as possibilidades de uma educação do ego que faça a mesma florescer em abundância com firmes raízes de solidarismo e não através da bondade de ocasião, inconsistente, indolor e supérflua. Fim da auto-enganação. Seremos capazes?




Um comentário:

  1. "E meus amigos parecem ter medo
    de quem fala o que sentiu,
    de quem pensa diferente.
    Nos querem todos iguais.
    Assim é bem mais fácil nos controlar.
    E mentir, mentir, mentir...
    E matar, matar, matar..."
    (Legião Urbana - Aloha)

    São Renato Russo, rogai por nós!

    ResponderExcluir