terça-feira, 6 de julho de 2010

Vamos ao Banquete? Aos jovens do Marista Ipanema...


Para os  meus sempre iluminados "alunos" que em nossa primeira aula de Filosofia perguntaram: " Estudar Filsofia pra quê?!" respondo fazendo uso das palavras de Luc Ferry - É valioso estudar Filosofia, ao menos um pouco, por dois motivos bem simples: primeiro é que sem ela, nada podemos compreender do mundo em que vivemos, segundo, do que se ganha em compreensão, conhecimento de si e dos outros por intermédio de grandes obras é vasta contribuição no clarificar de como viver melhor e mais livremente...
Eu sei que Filosofia é bem mais do que tudo isto, é convite apaixonado à um Banquete,  para sentarmos juntos e degustarmos sem pressa o que de melhor há no exercício do pensar que se devela em prática cotidiana. A mesa está pronta, todos estão convidados...
Aguardo com carinho!





domingo, 23 de maio de 2010

Meu quarto em Reading,PA

Revolvendo meus pertences, encontrei esta foto tirada em meu quarto no ano passado em Reading, Pensylvânia, quando lá estive em um tempo de Graça e aprendizagem. Muito espaço, comodidade, segurança e serenidade... Incontáveis vezes, sentava naquela poltrona e contemplava a neve que pousava silenciosamente em minha janela, fazia frio e escurecia e eu então, aquecia uma água e sovava o mate - tradição gaúcha para vencer a solidão em outras estâncias.
Conheci pessoas queridas, as quais jamais meu coração deixará de visitar.
Hoje, observando a foto deste quarto, volto meu olhar para o quarto em que me encontro, a diferença é estarrecedora. Minúsculo, desconfortável, inseguro, e de um barulho infernal que invade de fora e faz com que as paredes estremeçam.
Mas não estou lastimando esta mudança.
Reflito agradecida a metamorfose que vem ocorrendo dentro de mim, da maturidade que as escolhas e os diferentes espaços estão em mim realizando. Aqui também há pessoas queridas.
Não observo mais a neve - imagem indescritível, acolho hoje a parede do muro que sufoca minha atual janela e, pelas frestas dele, percebo a claridade da noite que insiste em me visitar, talvez, por saber o quanto almejo a mesma.
E quando a tristeza tenta me vencer neste tempo de travessia, murmuro para mim mesma a frase de Santo Agostinho: "Você precisa se esvaziar do que acumulou dentro de si, para poder se preencher com aquilo de que você está vazio".

terça-feira, 6 de abril de 2010

O sol de Diógenes e a sombra de Alexandre


Uma das mais belas histórias pertencente ao período dos clássicos gregos  é o relato do encontro entre Alexandre "o Grande" com o filósofo Diógenes Laércio. Não que Platão e Aristóteles não tenham sua contribuição relevante, mas, é interessante que também possamos voltar nossos olhos, mente e coração para alguns pensadores que em nossos relatos históricos e filosóficos foram deixados à margem.
Diógenes foi uma figura marcante para o movimento conhecido como "cinismo", Platão o chamara de "Sócrates enlouquecido". Os cínicos tinham dentre suas muitas regras elementares a ruptura radical com o mundo numa situação limite aonde convinências sociais, opinião e dinheiro eram desprezados numa provocadora suposta liberdade de expressão. Os cínicos haviam descoberto o sentido da existência no desapego e na proximidade com o estado de natureza, o sol que os impulsionava à vida, mesmo que em algumas circunstâncias fossem causas de desconforto social, era de uma luminosidade autêntica que potencializava nos mesmos, suas escolhas, concepção de vida e práxis cotidiana.
Diógenes vagava pelas ruas com seu alforge, jogava fora sua tijela e taça dormindo em um barril abandonado no centro da Pólis... até que um dia, reconhecido por seus exercícios de natural desapego e grandiosa sabedoria, Diógenes recebera a ilustre visita do jovem Alexandre Magno, o macedônio, destemido e amado por seu empenho heróico de tornar a Grécia o Império do mundo em suas descobertas, conquistas e encontros multiculturais. Para os gregos, o sol era o próprio Alexandre.
Assim, o conquistador se aproxima do homem sábio e oferece ao velho Diógenes o que ele desejar, qualquer presente em virtude do reconhecimento de seu modo de vida...
Ora, Diógenes venerava o sol como muitos gregos, mas, o seu sol era aquele que aquecia os dias já marcados pela sua idade, iluminava os seus caminhos e brilhava gratuitamente para todos cidadãos da Pólis, sem sair de dentro do barril onde pernoitava, ergueu os olhos ao jovem Alexandre e disse: "Uma coisa só peço... saia da frente de meu sol e deixe de fazer sombra em minha efêmera morada".
Quantos conquistadores ao longo de nossa história continuaram e, continuam ainda,  fazendo sombra à verdadeira sabedoria.


quarta-feira, 31 de março de 2010

A bela oração de Clarice

Meu Deus, me dê a coragem - Clarice Lispector

Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.

terça-feira, 30 de março de 2010

Os caminhos da moral contemporânea...

Ressurreição com sabor de chocolate


Jesus está vivo! Superou o desafio da morte e nos deixou a belíssima mensagem de que a vida é repleta de travessias pascais que podemos e devemos passar. Quando maturamente consideramos a mensagem pascal destes dias, concluímos que a vida é uma sequência infinda de mortes e ressurreições cotidianas as quais todos passamos indiferente de credos, cores e raças.
Mas aí, eis que surge outro elemento na celebração pascal da vida: o coelho. Criatura que jamais pôs ovo algum e, para complicar sua missão, deve fazê-los de chocolate. Coloridos, surpreendentes, saborosos e a cada ano mais caros. Uma fantasiosa crença cultivada desde cedo no coração de nossa infãncia para o desespero do bolso de muitos pais. Como frustrar o olhar encantado de uma criança que na manhã de domingo procura o ninho que foi construído na escola, na família ou na solidão de seus sonhos? A Páscoa torna-se festa altamente lucrativa, mas também, seriamente destrutiva para os que estão à margem da sociedade do consumo que estamos inseridos.
Resta aos muitos que não podem participar desta alegria, aguardar  dos que receberam a visita do coelho generosamente, as sobras de seus ninhos e o discurso falido da solidariedade. Talvez seja esta morte, a da dignidade humana, a mais dolorosa e difícil de se experienciar ressurreição.
Jesus está vivo, venceu a morte! O coelho chegou, vence o consumo.

sábado, 27 de março de 2010

Tagore ensina como encontrar Deus

" Deixa de cantar e entoar hinos e debulhar contas!
A quem estás adorando neste canto escuro e solitário de um templo de portas todas fechadas?
Abre teus olhos e vê: teu deus não está na tua frente, ele está ali onde o lavrador está lavrando o solo duro e onde o operário quebra pedras para abrir estradas. Com eles, no sol e na chuva a sua veste coberta de poeira.
Tira teu manto sagrado, e como ele, desce para a terra poerenta! Sai de tuas meditações e larga tuas flores e incenso.
Qual  é o problema de tuas roupas ficarem esfarrapadas e manchadas?
Encontra-O e fica com Ele, na labuta e no suor do teu rosto".

quarta-feira, 24 de março de 2010

Jovens envoltos em frágil blindagem


Estar diante de jovens em nossos dias é como confrontar-se com a Esfinge procurando decifrar seu enigma antes de ser devorado pela mesma. Não há juventude, existem juventudes, cada uma delas com características próprias numa pluralidade cuja essência talvez seja a mesma.
Jovens "adestrados" pelos muros da instituição escola ou família com suas rebeldias limitadas até àqueles que "soltos na vida" agridem e almejam internamente por um limite, todos eles, sem distinções, se revelam frágeis seres que carregam diante de si, uma blindagem para protegerem-se do nosso adultocentrismo que insiste em ousar conduzí-los por caminhos nem sempre por eles almejados.
Não somos "pastores" de um rebanho sem rumo, que segue cegamente a voz de comando de nossa tola sabedoria,  não devemos ser "carcereiros" das grades que a sociedade erguera em torno do mistério juventude. Sejamos neotéfilos, amigos da juventude apenas, companheiros de jornada nesta estrada chamada pós-modernidade a qual, para todos nós, tornou-se incerta, mas, também surpreendente.
Não há palavras para descrever o sentimento de inércia diante de um jovem que afirma não ter expectativa alguma com a vida, de presenciar em suas atitudes destrutivas, o grito silencioso de socorro. Em seu rosto, a juventude se perdendo num envelhecer cotidiano da desesperança. Os olhos expressando a indignação para com uma existência vazia, solitária, ferida...não há pais, educadores, sacerdotes, deus, amigos, futuro...tudo oscila e convida ao adormecer infinito, fuga desesperada das manhãs sem sentido. Drogas.
Diante destes jovens, com toda minha "ilusória bagagem cultural" e boa vida, me sinto nua, pobre, tola e inútil, mas não me deixo vencer pelo desânimo e cansaço que me afligem nestes dias, porque sei, sinto o quanto é preciso "apostar" na vida.
E assim como Pedro e João, diante do aleijado da porta do Templo (AT 3, 1-10) estendo minhas mãos para estes jovens e digo: "Ouro ou prata eu não tenho, mas o que eu tenho, isso te dou..." ansiosa para que, como nesta bela passagem das Escrituras, o jovem possa superar a si mesmo e sair pulando, cantando e agradecendo o simples existir.


Quaresma ainda: desejo de ser pão

Ser cristão, ser religioso, é estar mais próximo dos ensinamentos do Pai e da tentativa de fazer, no dia-a-dia de nossos passos e atitudes, com que eles possam ser vivenciados, experienciados na prática da vivência das relações em grupo, comunidade, vida fraterna.
Um dos maiores ensinamentos do Pai foi o da partilha, doação intensa sem cobrança ou limites. É perceber que não somos um, mais muitos, numa relação de fraternidade, simetria e vida.
Se não sou apenas um, uma, não posso viver como se o fosse no cultivo de um egoísmo inocente, mas que mata a vida em comunhão. Eu sou a fraternidade, tudo é nosso, nada é meu apenas.
O Pai se deu por inteiro e o Filho fez o mesmo até a morte na Cruz, como se não bastasse, o Filho insistiu na importância do doar-se e tornou-se Pão Vivo, Memória e Esperança, é impossível ir para uma Celebração Eucarística, rezar ao Pai e permanecer somente voltado para si mesmo. Fechamento ao Espírito que se desvela nas atitudes cotidianas.
Quaresma é tempo de rever o sentido da doação, do despojamento, do servir aos outros, é tempo de ser Pão, Pão partido, doar-se por inteiro e, via este gesto, ser testemunho da maior mensagem deixada pelo Cristo: o esvaziamento.
Que a quaresma nos conduza a refletirmos o quanto somos capazes de nos tornarmos Pão, doando nossas potencialidades, onde quer que estejamos, estender as mãos, preparar o banquete, ações concretas, não apenas para o nosso existir, mas, para o existir dos outros que me completam.
Sejamos Pão partido, saborear juntos e juntas é muito melhor do que saborear solitariamente, trabalharmos juntos e juntas é menos cansativo do que fazer o que queremos sozinhos. Para isso, há a comunidade, o grupo, a colaboração. O começo acontece com a iniciativa de um que leva ao engajamento do outro.
Quaresma é tempo de intensificar o Ser Pão dentro de cada um, cada uma de nós. É aprofundar o seguimento e conduzir o dom da partilha para uma vida comunitária justa, onde, ninguém fica sobrando, ou, com sobras do que foi deixado.
O que me impede nesta quaresma de ser mais doação e menos retenção? O que posso fazer para me tornar cada dia Pão partido para os que comigo convivem?
Somente assim, saberemos o real sentido e a bela experiência de entender a frase do Pai: “aonde um ou mais estiverem reunidos em Meu Nome, Eu estarei com eles”.

sábado, 20 de março de 2010

domingo, 14 de março de 2010

A necessidade das idéias claras segundo Pierce


O filósofo Charles Sanders Pierce, influenciado pela proposta cartesiana de reconstruir a filosofia e superar o hábito dos escolásticos de verem na autoridade a fonte última da verdade, reforça em sua obra, a necessidade de um método cuja fonte natural dos princípios verdadeiros está na mente humana, na consciência. Para que a consciência pudesse oferecer-nos verdades fundamentais e decidir do que fosse agradável à razão uma condição de verdade foi assinalada por Descartes: serem claras as idéias. Mas, como tornar clara as nossas idéias? Como distinguir entre uma idéia clara ou obscura?
Para Pierce uma idéia clara é definida como "aquela apreendida de forma tal que se torna possível reconhecê-la em qualquer situação sem confundí-la com qualquer outra dita obscura". Uma clareza de pensamento é sumamente emergente em nossos dias, clareza já notada e admirada na filosofia. Pierce ainda acrescenta "não se escreveu ainda a página da História que nos diria se tal povo, a longo termo, prevalecerá ou não sobre povo cujas idéias (tal como palavras de sua língua) sejam poucas, mas que possua domínio completo sobre essas poucas idéias. No que tange ao indivíduo, não pode haver dúvida de que umas poucas idéias claras valem mais do que muitas idéias confusas".(PIERCE,1975)Conhecer o que  pensamos, dominar nossas próprias tensões daria sólido alicerce a uma pensamento lúcido, ponderado e edificante numa não tardia maturidade intelectual, já que esta costuma chegar tarde numa infeliz acomodação da natureza, pois para o ser humano que já realizara parte de seu trajeto existencial e os erros já produziram seus respectivos efeitos a clareza é de menor utilidade, do que para aquele, aquela, que tivesse o caminho à sua frente. Infelizmente, lastima o pensador, esta lição é acolhida apenas pelos tímidos e de idéias pobres, muito mais felizes que os que desamparadamente chafurdam no rico lodo das concepções. Que terrível constatação a de ver que uma única idéia obscura, furtivamente instalada no espírito do indivíduo, pode, por vezes, agir como obstáculo de matéria inerte numa artéria, impedindo a nutrição do cérebro e condenar sua vítima a consumir-se no total domínio de seu vigor intelectual. Vigor como de indivíduos que ao longo dos anos, acariciam vagas sombras de idéias, idéias sem sentido, falsas, e amaram as mesmas apaixonadamente, fazendo delas companheiras de todas as horas chegando a consagrar suas forças e vida... Entretanto, muitos despertaram em certa manhã gloriosa e verificaram que elas se tinham ido, muitos infelizmente, ao perceberem tal ausência, deixaram também que desaparecesse a essência de suas próprias vidas. Chegada era a aurora da dúvida e do desvelar das crenças.

sábado, 13 de março de 2010

Amizade, livros e café

Se existe algo capaz de aniquilar com a irritante monotonia de uma sexta-feira solitária é a combinação deliciosa da amizade, café e livros...
Nada programado, uma simples ligação, confirmar... Encontrar alguém querido, caminhar pela cidade, ouvir novidades cotidianas, silenciar, entrar em uma livraria, sebo, e, aspirar juntos o cheiro de um saber adormecido que transcende na poeira do recinto. Livros. Sarcófago repleto de riquezas pouco valorizadas.
Tocar nos livros, ler orelhas sem pressa, partilhar autores/autoras significantes, rir inocentemente de outros nada significantes. Amizade.
Chega o entardecer e a alma saciada das palavras pede algo mais, um encerramento apropriado para o dia que termina, um café, daqueles que ao fecharmos os olhos poderemos até sentir o aroma. Não um cafézinho apenas, mas um café em boa companhia, um café que aquece o coração e impulsiona ao novo dia. Café.
Amizade, livros e café, poderá haver combinações melhores, mas esta, faz toda a diferença em algumas sextas-feiras.


quinta-feira, 11 de março de 2010

Quaresma: tempo de limpar a casa


Sempre apreciei a metáfora de que "quaresma é tempo de arrumar a casa"...
Mesmo que a origem deste tempo litúrgico, na tradição cristã, nos revele a seriedade de um deserto reflexivo e repleto de desafios espírito-existenciais que Jesus de Nazaré passou por um período de 40 dias, é preciso que saibamos também,  atualizar a mensagem para compreendê-la melhor em nossos dias.
Numa sociedade em que estamos a mercê dos "entulhos" do consumismo alienante, do individualismo social e da ignorância religiosa, é sumamente emergente um tempo de "limpeza" radical. Não para ficarmos "purificados" melhores que os que conosco partilham deste universo, nada disso, mas, para que nos tornemos mais humanos e possamos então compreender os desafios de nossos tempos.
Quaresma é período de reflexão dos passos dados e da trajetória que há para percorrer, é silenciar em meio a turbulência dos dias e aprofundar o sentido de nossas vidas em um tempo do sem sentido.
Afastar os móveis, abrir portas e janelas, tirar a tapeçaria para fora, espanar a poeira dos dias, especialmente, daqueles em que deixei de ser humanamente feliz e permitir aos que comigo "residem" serem felizes. Dar passagem ao vento que renova o ar das paredes, nem sempre ventiladas de nossa mente. Limpar tudo que for possível, permitido, numa abertura de coração, dispisponibilidade às mudanças necessárias.
E, ao final deste tempo, poderemos enfim, mesmo que exaustos, comemorar, chamar os nossos para uma Páscoa de partilha, passagem para tempos melhores, e, ouvir então no mais íntimo de nosso coração, o sussurro da confirmação dos que amamos  dizendo: "Eu desejei passar esta ceia com você".






domingo, 28 de fevereiro de 2010

About gods by Weil


"It is not up to us to believe in God, but only to not grant our love to false gods".
(Simone Weil)

Suspendamos o juízo e ouçamos Russell

Como não apreciar um sábio em sua lucidez finita, a sua busca em desvelar, através do conhecimento, questões acerca da vida, Deus,  dogmas e religião? Neste universo plural de significados e supostas certezas, me resta apenas, por enquanto, suspender o juízo e aprofundar o assunto...
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Compreender o fenômeno da religião segundo Dennet - O início

A religião é considerada pelo filósofo Daniel Dennet, um  importante tópico que precisa ser investigado. Composta de uma variedade de fenômenos que diferem e surgem em diferentes circunstâncias e implicações, a "essência" da religião é constantemente questionável. Dennet chama as religiões de sistema social cujos participantes confessam a crença em um agente ou agentes sobrenaturais cuja aprovação eles buscam.
Uma definição sujeita a revisão, ponto de partida apenas, pois, de acordo com esta definição, um devotado fã clube de Elvis não é uma religião, porque embora os membros adorem Elvis, ele não é considerado literalmente sobrenatural. É preciso em nossos dias analisar as religiões com um microscópio grande-angular biológico e social examinando assim, fatores ao longo de grandes extensões de espaço e de tempo que moldam as experiências e ações de pessoas individualmente religiosas.
A religião é, como foi para Sócrates em seu tempo, algo muito interessante para que nos mantenhamos ignorantes a seu respeito, ela afeta nossos conflitos sociais, políticos e econômicos e, principalmente, o significado que damos para nossas vidas. Segundo Dennet, é imperioso que aprendamos o máximo que pudermos a respeito, assim, atingiremos um melhor entendimento se tentarmos compreender melhor, o desafio de espiar o abismo e olhar, examinar , estudar o fenômeno natural da religião com olhos da ciência contemporânea. Convite irrecusável diria Sócrates...

sábado, 27 de fevereiro de 2010

O acalanto do Fado ao sabor do chimarrão

A catarse de meus dias se dá através da escuta de um bom fado e no sovar de um chimarrão, solitariamente ou acompanhada por bons amigos. É cultivar a terra de minhas raízes adormecidas e regar a mesma com as lágrimas de um cotidiano tão frágil de sonhos e lucidez. É acolher em si a riqueza de muitas cidadanias e permitir, nesta pluralidade de emoções, refletir honestamente sobre meus caminhos...
O fado abaixo intitulado Cavaleiro Monge é inspiração perfeita para quem almeja lançar-se por venturosos caminhos no cotidiano existencial do além supérfluo...

A sabedoria dos provérbios japoneses

" Queime a ponte que você acabou de atravessar"(Masaharu Taniguchi).
Não lamente ou suspire saudosamente a travessia realizada, lance o olhar rumo a aventura do caminho que se abre, sorria pelo aprendizado adquirido e ofereça páginas em branco para o novo que se apresenta.
O tempo é o agora e as sandálias, mesmo gastas dos velhos percursos  percorridos, consegue enfrentar ainda, sem dúvidas, o que encontrarmos nas novas estradas.
O passado vivido é agora supérfluo, o fogo do tempo irá devorá-lo, deixe a ponte queimar e avance... o horizonte é possibilidade, profundo mistério que aguarda.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Poesia e razão em Nedel

Qual foi minha alegria ao receber no Natal de 2009 um livro autografado de um querido amigo, professor de ética, que reuniu delicadamente em sua obra: poesia e razão. Páginas de sensibilidade, harmonia, fluência e provocações para o nosso cotidiano tão  empobrecido de natural sabedoria. Abaixo, uma das poesias, a qual, no período em que recebi o presente, muito me revelou. Obrigado professor  José Nedel.

Máscaras
As tentativas sempre renovadas
De remover as máscaras alheias
O temor nos comprovam, a mancheias
De termos nossas próprias arrancadas.

" O nosso mundo civilizado não passa de uma grande mascarada" (Shopenhauer, 1964)

Ethics today

O julgamento moral é ingrediente inevitável em nossas vidas, entretanto, desde os séculos XVIII e XVII, uma desorientação ética resultante do declínio do religioso lançou a sociedade numa situação histórica caracterizada pela abertura e desorientação acerca da reflexão moral e ética.
O que sustenta afinal a consciência moral contemporânea? Ernst Tugendhat filósofo contemporâneo nos dá algumas pistas ao afirmar que a moralidade, não está mais sendo amparada por um fundamento absoluto, mas, sobre um tecido complexo de fundamentos e motivos constituídos pelo princípio da pergunta.
É preciso intensificar em nossos dias a busca de obter clareza sobre si mesmo e sobre o próprio comportamento, cultivar uma exigência moral que anseie em deixar de ser irracional, inconsistente.
O filósofo se lança no objetivo de superar relativismos presentes em convicções morais. Almeja o abandono da moral em sentido habitual que conduz à ilusão para desvelar uma compreensão não transcendental da fundamentação de juízos morais.
É a possibilidade diante do relativismo hodierno de falar da moral como um sistema de exigências mútuas calcado na simetria de validade das justificações. É o encontro de uma bifurcação que nos aponta alternativas fundamentais de nossa autocompreensão e do viver eticamente.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A busca de justificação da caridade

Já na antiguidade, sábios como Ovídio afirmavam o quanto "nós todos somos hábeis para nos enganar". Em nossos dias de incertezas e complexidade, o sujeito que surgir munido de vasto currículo, bagagem empoeirada de especializações, seminários e cursos, massagear certos egos e prometer o inusitado: conduzir a juventude rumo ao altruísmo e a cidadania através do pastoreio de seus egos, poderá receber a promoção de semideus em alguns espaços... ah, nossa douta ingenuidade...
Assim, a nova cultura hodierna vai se fortalecendo, cultura do desenvolvimento individual que enfraquece no sujeito contemporâneo, valores e deveres em relação a si e a sociedade maturamente. Emerge com força total a caridade com nova roupagem, através de uma boa intenção da moral sem obrigação ou sanções em um voluntariado de espetáculos breves e em shows de cidadania. E a juventude, como na Grécia Antiga, se encanta e segue hipnotizada pela retórica de sofistas contemporâneos. Sem ofensas aos sofistas da antiguidade, estes eram mais precisos em seus objetivos para com a juventude...
Eles anseiam pelo novo,  participam, colaboram, contribuem, mas, pouco refletem sobre o porquê, os motivos, as justificações destas ações, são cegos guiados por cegos.
Certamente, muitas propostas de solidariedade são louváveis quando conduzidas em um processo formativo que desperte e comprometa. Ações que não atrofiem consciências, mas, apurem os sentidos na real direção do outro, numa comunhão simétrica do cuidado de si, do próximo e da casa comum que ambos partilham.
É a busca pela justificativa do auxílio caritativo, desafio de superação da erosão social do ideal altruísta o apelo de nossos dias. É educar na profundidade o cidadão do hoje que segundo  Lipovetsky "não é mais egoísta que em outras eras, mas que, despudoradamente não titubeia em pôr a nu o caráter individualista de suas preferências", não que isso seja imoral ou ruim, pois não elimina preocupações éticas e as possibilidades de uma educação do ego que faça a mesma florescer em abundância com firmes raízes de solidarismo e não através da bondade de ocasião, inconsistente, indolor e supérflua. Fim da auto-enganação. Seremos capazes?